Pictosofia no conceito do ativismo gráfico

    Sonia Diaz e Gabriel Martinez, fundadores do coletivo espanhol “Un Mundo Feliz”, trouxeram à ESAD novas visões sobre o ativismo gráfico, uma ligação dos designers às exigências da sociedade moderna. Os dois designers de Madrid coordenaram um workshop, desenvolveram uma conferência e apresentaram grande parte do seu material numa exposição, patente no átrio da nossa escola.

    O workshop, dedicado ao tema “picto-ativismo gráfico”, teve uma participação muito interessada dos estudantes da Unidade Curricular Introdução ao Projeto, e os responsáveis de “Un Mundo Feliz” contaram com a ajuda dos professores João Lemos e Margarida Azevedo para dar início a projetos de ativismo gráfico criados na ESAD. Segundo revelou o professor João Lemos durante a conferência, esses projetos serão conhecidos em breve. A conferência fez encher o auditório e nela, Sonia Diaz e Gabriel Martinez desenvolveram os mandamentos do ativismo gráfico, através de um título sugestivo para o evento: “Pictosofia”. Desde logo, de forma a separar as águas, Gabriel Martinez lembrou que o ativismo gráfico baseia-se no desenho não comercial. “Não é melhor nem pior. É diferente”, explicou.

    Os outros pilares desta forma de expressão são a orientação para fazer perguntas e não para obter respostas e o facto de nunca ser nada objetivo, procurando, isso sim, a sensibilidade.

    O coletivo “Un Mundo Feliz” começou com um manifesto, “coisa dos anos 1920 muito útil para orientar o nosso trabalho”, como referiu Martinez. “A partir daqui tínhamos de pensar em coisas de interesse para uma comunidade e que pudéssemos trabalhar nelas com algo barato e fácil de utilizar, como papéis de cor e escrita a preto”, contou.

    “O nosso conceito foi sempre procurar métodos de protesto e persuasão não violentos”, apontou, por outro lado, Sonia Diaz, para quem “desenhar para a solidariedade é fundamental”. A designer lembrou a primeira fase do projeto “Um Mundo Feliz”, que coincidiu com os atentados de Madrid de 11 de março de 2004. “Nessa altura elaborámos uns pin’s de solidariedade e conseguimos distribuí-los na zona da Estação de Atocha, depois de explicarmos à Polícia que aquilo não era publicidade nem mensagem política”, revelou. Sempre com o princípio de que “a palavra desenhada tem o dobro da potência da palavra pronunciada”, a pictomontagem de “Um Mundo Feliz” passou a surgir em outros materiais, como t-shirts e autocolantes para colar na roupa.

    Outra das vertentes do ativismo gráfico é a manipulação de tipografias já existentes. “Não somos criadores de tipografias, mas sim manipuladores de tipografias. Aproveitamos os logos de marcas já existentes e transformamo-los com mensagem de ativismo gráfico”, explica Gabriel Martinez, antes de revelar que “este trabalho nunca trouxe problemas legais”.

    “Como é óbvio recebemos críticas, mas estas permitem-nos falar com as pessoas. O ativismo gráfico é uma forma de liberdade de expressão, mas também gostamos da liberdade de discussão”, concluiu Gabriel Martinez.

    O duo de Madrid constitui a “alma mater” do coletivo “Un Mundo feliz”, mas este também integra variadas colaborações, de designers espanhóis e de outros países e continentes. Após a conferência, Sonia Diaz e Gabriel Martinez guiaram os interessados pela exposição “A.R.S. Anti Rape School”, que mostra variados trabalhos do coletivo. Estes eventos realizaram-se também ao abrigo do programa Erasmus+ mobilidade de professores 2023/24 e foram coordenados pelos professores Antonino Jorge, João Lemos e Margarida Azevedo.

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